quarta-feira, 14 de maio de 2008

EU, LIVREIRO

3.

O sebo era pequeno e caóticamente simpático. Os livros que não coubessem nas estantes ficavam empilhados esperando sua vez de serem garimpados pelos ratos frequëntadores, malucos discretos e vez e outra bem interessantes, por livreiros da U.S.P., na maioria uns chacais neuróticos, alguns bons conversadores com aquela arrogância bem dosada entre o intelectual e o picareta. Eu trabalhava no período da tarde limpando os livros e dando um jeito de manter as entantes sempre cheias para conhecer o estoque. Jorge não gostava de procurar livros caso não lembrase se tinha ou não, e mais de uma vez me dise para não perder tempo procurando nada para ninguém por mais de três minutos. Ele anotava os pedidos mas só se dava ao trabalho de avisar caso o cliente fose mulher gostosa ou burguesão com grana. Quando algum lote de Humanas entrava ele ligava para alguns livreiros e iam algumas figuras folclóricas fazer negócio. Jorge procurava mantê-los falando, anotando mentalmente o que compravam, atento ao que deixavam de lado no último instante.
__ Aí, xarope, quando um desses caras entrarem e eu não tiver abrem bem o olho que é tudo filho-da-puta.
Entre uma lição e outra, quase sempre manha de vendedor, faro prá ladrão, jeito de sacar os espertinhos, dava sempre um jeito de me esculhambar, principalmente quendo eu tentava botar banca de grande leitor
__ Ah vai melar cueca e cala essa boca.
Apesar disso alguns clientes saía satisfeitos dando graças, e Sua Baianidade sorria e me dava dicas de sua psicologia.
__ Thomas Mann é grosso mas é o Sidney Sheldon que paga o almoço.
Se eu tivese escutado este conselho do Mestre estaría agora numa praia bacana vendendo birita prá turista no meu quiosque cheio de mulher. Ese era o sonho dele. O meu era me livrar das espinhas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fala,Adriano.

Essa série Eu Livreiro é bacana pra cacete. Sem falar no ensaio do Dino Buzzati, que me fez me lembrar da nosas conversas. Eu gostei muito das reflexões que você fez sobre o filme Onde os Fracos não têm vez já vai fazer algum tempo, quando conversamos ali na Via Libres.Seria legal um texto aqui sobre o assunto. O que acha?

Abraço

Anônimo disse...

Grande Adriano, tudo bem cara?
Quem está falando é o Anderson, recebi o seu recado outro dia referendo ao blog.

Desculpa a demora, não passei aqui antes devido ao "turbilhão" que anda minha vida (a faculdade está me elouquecendo...hehehe)

Mas porra, legal seu blog hein, curti e série "Eu, livreiro" espero que continue a narrar esta sua "saga".
Também possuo um blog, mas além de ter muita besteira, o citado anda tão desatualizado (falta de tempo é phoda) em todo caso quando tiver um tempinho confira:

www.croniquizado.blogspot.com

Espero que continue hein, sempre estarei passando aqui para conferir sem trampo. Mas iaê? Como está? Espero que esteja bem.

Grande Abraço cara, até mais