domingo, 11 de maio de 2008

Eu, Livreiro.

No último sábado resolvi ir ver a pré-estréia de Control e como saíndo da Passagem tería algumas horas livres andei por estes quarteirões entre a Consolação e a Augusta. Fazia já um bom tempo que não andava por ali com o mesmo tédio da época em que trabalhava ao lado do Espaço Unibanco, digo tédio por falta de definição - o veteranismo não desperta nada- desaprendi a carregar os lugares comigo mas admito que aínda vejo aqueles anos na Interzona, o território bizarro e desaparecido entre a Luís Coelho e a Antônio Carlos marcou meus músculos e o jeito com que o coração bombeou sangue para o cérebro com o senso de que a queda enquanto servi como livreiro ali sería o desastre porque conhecendo o que a rua é capaz, da pressão demoníaca que exerce para baixo detalhando a visão desprezada da loucura urbana, os acordos de convivência mantidos com aproximações e afastamentos muito rápidos para os civis sequer imaginarem a feudalização em camadas do lema : tudo é permitido. Vivi cinco ou seis anos trabalhando antes o significado do que fazia do que pagar contas e inspirar oxigênio e expirar gáz carbônico, o que fiz cumprindo à custo os Upanishades e a santa Torá naquela mistura de passarela de Almodóvar e o sofisticado Mondo Cane - pelo menos enquanto Lazlo era vivo e o Sarajevo um lugar honesto para os otários se foderem em paz. Quando cheguei já tinha a carga da rua,já sabia ha muito tempo o que devería ser evitado e o que podería ser aproveitado, que mãos apertar, a quem afastar e para onde fugir. Para um livreiro a rua é um inferno, a escola de tudo o que precisa aprender para não enlouquecer, e se for reprovado tranforma mesa de boteco em escritório só esperando o conhaque grátis, o fumo fácil e a noite, a noite. É, e mesmo cuidando para não cair a Augusta foi uma pós-graduação. Foi a região da loucura.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ae, vc não falou do filme!
E o presente, o agora, como fica???